quarta-feira, 18 de junho de 2008

Aquela mulher me fez chorar !


Caído à margem de uma possa de sangue vi uma mãe aos berros
Ela gritava clamando por Deus
Nos seus gritos de desesperos
Com lagrimas em seus olhos de uma vida marcada pelo sofrimento
Em seus braços um menino, o Zezinho
Seu filho mais novo moleque aventureiro e sem medo
Sem perspectiva de vida, sem escola, sem sonhos, sem vida
Entregue a sorte de um mundo sem pena dos pequenos
Olhava chocado aquilo
Uma mãe que encontra seu filho no chão
Seu sangue lava a calçada da desgraça que muitos ainda cairão
Aquela mulher me fez chorar !
Muito tempo depois a policia leva o corpo
Mais um que caiu, mais um que caiu
Assim repetia o policial
Olhei aquilo calado com meus olhos fixos em tudo
Por dentro algo me consumia, tinha vontade de grita
Procurei encontrar respostas
Por que este menino caiu?
Busquei saber quem era sua mãe
E me falaram num tom de ironia
“uma qualquer ai, trabalha de faxina, terceiro filho que pah, marido fugiu com uma morena gostosa”
E nada mais falei caminhei ate anoitecer
E em um lugar parei a rever
Todo o drama daquela mulher
Daquele jovem no chão
Olhei para o mundo em minha volta
Quantos que morrem?
Quantos que passam fome?
Quantos que vivem em condições desumanas?
E de quem é a culpa?
Pensei muito sem falar
E uma conclusão eu formei a culpa é minha
A culpa é sua
A culpa é nossa
A culpa e do sistema que mata sem perdão
E nos sentados
As vezes sobres livros filosóficos
As vezes sobre igrejas lotadas
Enquanto não fizermos nada para mudar esta realidade
A culpa de tanto sangue no chão pertence a cada um de nos
Monstros humanos com nossos desejos de consumo

RODRIGO Szymanski

Um comentário:

Anônimo disse...

O poema angustiado, uma face político-existencial do mundo. Gostei muito. Aos quase-sempres negamos a existência de poças de sangue no mundo, e é justamente por ela que abres o texto. E há a dimensão teológica: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", como penso bem ter resumido Fernando Pessoa, embora não seja esse seu objetivo, constatar a teologia..., mas, enfim, o reino só pode haver se o fizermos, se acordarmos para isso. Penso que se ser pejoteiro é algo, deve ser tentar estar o mais perto disso.

Bem, só uma nota cultural: o grupo Roca de teatro, o do Dom Quixote, cuja crônica estou escrevendo, vai passar um tempo cá em Santa Catarina, e quiçá passe lá por teus lados, no Sul, talvez em Criciúma. Confira a programção do SESC. O teatro é excelente e ao ar livre...

Abraços, Rodrigo!
Até a próxima postagem!