terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A Águia e a Galinha



A Águia e a Galinha

História contada por James Aggrey, político e educador em Gana, numa reunião de lideranças populares, que discutiam
os caminhos de libertação do domínio colonial inglês.
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu
pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e rações próprias para galinhas.
Embora a águia fosse a rainha de todos os pássaros”.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim,
disse o naturalista:
__ Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha
como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração fará um dia
voar às alturas.
Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
__ Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo,
ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
__ Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
__ Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar
novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
__ Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
__ Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
__ Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar
ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe
das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
__ Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou Então o naturalista segurou-a
firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do
horizonte.
Nesse. momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si
mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul
do firmamento...”
E Aggrey terminou conclamando:
__ Irmãos e irmãs! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar
como galinhas. E muito de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso,
companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como águias. Jamais nos contentemos com os grãos
que nos jogarem aos pés para ciscar.
Texto extraído do Livro “A Águia e a Galinha”Leonardo Boff

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