segunda-feira, 17 de maio de 2010

parte de uma historia

São quase cinco horas da manha, estou acordado, atirado em pensamentos da minha história enquanto ser humano. Confrontando os pontos radicais de minha existência.
Sempre fui cristão, católico, e voltado para as questões sociais, para muitos um marxista, comunista, socialista... Mais o que tudo isso significa em minha vida? Nunca rejeitei possuir estas características. Mais tudo isso constituo como uma construção social do meu ser como individuo.
Com quinze anos de idade deixava a vida de seminarista. Uma experiência significativa que influenciara toda a minha vida. Lembro-me da frase de um padre, “nem todos os seminaristas serão religiosos, mais todos devem ser bons cristão”.
Ao sair inicio a minha participação como membro de um grupo de jovem, ligado a um movimento eclesial da igreja. Desempenho um processo de grupo com outros jovens que caminham na vida do grupo. Mais será com meus 17-18 anos, que entro em uma das minhas maiores crises de vida ate o momento.
Não peregrinava o mesmo modo de ver o mundo, como os membros deste movimento. Nesta ocasião já sou parte da Pastoral da Juventude da paróquia. Embora com uma identidade a ser firmada, ate o momento em construção, eram dois modelos, de espiritualidade e de igreja que não se envolviam. Para um jovem de grupo, tudo isso é um grande tormento. Dois paradigmas, uma escolha. E esta escolha não é feita por determinação das organizações. E sim por que os modelos são divergentes em vários pontos centrais na vivencia da fé. A escolha de uma opção aprontava por anular a outra opção.
Quando ainda era participante deste movimento, uma vez já em crise por minhas opções de vida, e visão de mundo. Escutava repetidamente em retiros e afins, a filosofia dualista. Onde existe um Reino de Deus e o mundo. Ambos separados, não éramos do mundo, ou nos doutrinavam que não deveríamos ser. Éramos de Deus, e deveríamos buscar uma santidade, afastada das coisas do mundo. Assim eu acreditava neste modo de vida. Entretanto sempre fui ligado às questões sociais, era filiado ao PT e acreditava na militância política. Isso incomodava muitos membros deste movimento, que por diferentes vezes repreendiam minhas posições políticas.
É com isso que inicia minhas crises. Apresentavam-me, um Deus que condenava um Deus que oprimia um Deus que julgava. Não somente o pecado por ele mesmo, mais as condições humanas. Escutei certa vez que a pobreza era a resposta de Deus aos pecados dos homens. Isso foi à gota da água que trasbordou meu poço de angustia e conflito interiores. Para mim, um jovem, tudo aquilo se tornava respostas que não completavam minhas perguntas. Meu maior conflito era com Deus. Deus passa a ser um ser mau, dominador, opressor... O grupo de jovem acaba, afasto-me do movimento, E não só. Por um período afasto-me da igreja e de Deus. Como acreditar em um Deus que nada faz para amparar os que sofrem? Ir à missa ou rezar, não preenchia o vazio que estava formado. Assim como Deus, a igreja passava aos meus olhos como algo estúpido. Não podia compactuar com estas estruturas de opressão.
Porem mantenho minha militância enquanto Pastoral da Juventude. Mais um conflito interior, já não cultivava uma espiritualidade que me ajudava a discernir, minhas ações enquanto vida pastoral. E isso me causa um problema chamado “endurecimento humano”. Era rude e “cruel”, na minha forma de conduzir os afazeres pastorais. Aos poucos vou perdendo a esperança no ser humano. Perdia a sensibilidade de olhar para o outro, e isso ainda permanece como uma marca para os que comigo militaram.
Entro na universidade, estudante de economia, tenho contatos com professores, com grupos de militantes políticos, com o movimento estudantil. Em outubro de 2005 vou para Brasília na primeira assembléia popular. La, vou conhecer militantes de todos os estereótipos.e inicio minha intensificação nas questões políticas.se torna um grande divisor de águas em minha vida. Já tinha feitos estudos introdutórios sobre o marxismo, sobre o capitalismo, sobre a sociedade. Começo a perceber que minhas angustias de um mundo mais justo, possuem caminhos. E os livros, as teorias me mostram. Envolvo-me cada dia mais com estas lutas.
Eram momentos de lutas, eleições de centro acadêmicos, de DCE, movimento passe livre, de pastoral social, de Pastoral da juventude... Neste momento passarei um processo admistrativo e a pressão vinda da coordenação do curso. Momento de crescimento e tortura pessoal...
E neste tempo e cada vez mais me torno um critico ferenho do movimento que já fui membro, e terei sérios problemas com atuais membros em debates desgastantes. Deixando uma imagem fragilizada enquanto igreja, enquanto membro da pastoral da juventude.
É neste momento que a PJ passa por sérios problemas de articulação, de organização. Éramos alguns loucos que não perdíamos a esperança, e nos reuníamos enquanto diocese às vezes somente para chorar as magoa.
Eu crescia como militante político, mesmo dentro da igreja, achava a igreja católica como opressora e alienante. Não me sentia acolhido por uma igreja que fazia opção por uma elite, uma igreja de poderes. Meu caminho trilhava para um afastamento da mesma. Para mim era insustentável minha permanência. E por muitas vezes me perguntava por que ainda ali estava? E projetava meu futuro como militante social em sindicato, associação, partido... No meu entender a igreja seria dominada por aqueles membros, daquele movimento dentre outros, que pregavam um Deus tão estranho... Era questão de tempo.
A espiritualidade ainda não fazia parte constante de minha vida. Hoje entendo que tinha temor. Possuía medo de entrar mais fortemente em sintonia com Deus e descobrir que este Deus era mesmo mau. Preferia manter distancia em relação às orações pessoas, as celebrações eucarísticas nada me dizem ainda, mero formalismo de católico.
O caminho era o comunismo, “a religião era o ópio do povo”. Acreditava que era necessário lutar, criar uma guerra contra o império capitalista, se necessário pegar em armas. Não estava errado é necessária mesmo a luta.
O tempo vai passando já estou no curso de historia, a luta do movimento estudantil já não me faz sentido. Analisava a luta de um grupo contra outro, sem bases, por fim o interesse era estar no poder. Prometi a mim mesmo não mais me envolver em disputas eleitorais de qualquer formato. E sim lutar por meios de conscientização das “massas”, mais como? Neste período estou na equipe de coordenação da EDEJU. A escola diocesana da juventude da diocese.
Tudo começa a se centrar, suavemente início um reencontro com cristo ressuscitado, a maneira de cultivar a espiritualidade, começa a me dar impulso. Já não creio que a espiritualidade é algo alienante. É necessário rezar, celebrar se apaixonar pela proposta de Cristo. E assim o faço. Um dos marcos será o curso de verão de 2008 do CESEP em são Paulo. Aquela vontade de expressar a Fé, que era contida pelo medo de me torna alienante foi esvaecendo.
Ainda possuía muitos conflitos em relação aos movimentos que estão em nossa igreja. Mais a raiva o ódio que sentia já não pertence a mim.
Com o desenvolver principalmente da EDEJU, onde era o responsável pelos momentos de orações, reaprendi a rezar, a entrar em contato com o divino, a se entregar ao Deus mistério. Momento de rezar a vida descobri o oficio divino da juventude, a leitura orante da bíblia. Descobri uma igreja viva. Comunitária e Povo de DEUS.
Ainda acredito naquilo que acreditava. Em um mundo melhor e creio que este mundo é a terra prometida. A terra dos que foram expulsos de suas terras. Ainda faço minhas criticas a igreja e ao seu poder. Mais hoje a vejo como um caminho de mudança. As comunidades eclesiais de bases são a expressão vida do amor de Deus ao seu povo amado.
Ainda leio os grandes teóricos marxistas e o comparo com a proposta e a promessa de Deus ao povo caminhante. Descobri que a aspiração de “outro mundo possível”. Inicia com o amor, com a entrega ao ressuscitado. Com as utopias, estas utopias que não descobri em nem um livro, mais aprendi a tela com aqueles que estiveram junto de mim. Ainda questiono os movimentos carismáticos e fundamentalistas da igreja católica, ainda creio que a CEBs que a teologia da libertação é o caminho da igreja de cristo para a construção do reino definitivo
A minha historia me mostra hoje que, somos feitos de crises e de esperança. Como sair destas crises? Como chegar à esperança?
E foi na leitura de um livro este ano, uma biografia, de DOM HELDER CAMARA, não é um simples livro de historia, é um relato de exemplo de ação pastoral e humana. Que refiz minha trajetória repensando ações e atitudes. Para muitos já foi tarde, ainda terei a mesma identidade, de combatente do movimento, de um Pjoteiro Revolucionário, de agressivo, do contra. Talvez sim, ainda sou isso. Mais no meu eu interior não mais. Ou pelo menos estou a caminho de cada vez mais compreender as pessoas, compreender o diferente, acolher o estranho.
Foi necessário passar por isso, para entender vário episódios que a vida atravessa. Foi necessário acreditar e desacreditar em tudo para entender a dialética da existência humana e social das coisas que habitamos. Em fazer esta (re)experiência com o Deus vivo. Que apesar do nosso extremismo podemos nos converter a boa nova anunciada por Cristo.

Rodrigo szymanski
17/05/10

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